O artista Debret e o Brasil

além-mar, quando mandava experiente copista que empregava em reativar cores de aquarelas para lhes aumentar o valor. Ia além: encomendava mercadoria decalcada de litogravuras para vendê-la como trabalho original, ou apresentava obras retocadas de autores desconhecidos, dando jeitosamente a entender que deviam ser da autoria de artistas que nos visitaram. Comprou-lhe o "marchand de tableaux" André Beneteau, interessado em Debret, um quadro a óleo representando ateliê de pintor, tendo no primeiro plano cavalete e tela, onde aparecem pertences de cavaleiro gaúcho, caçambas, esporas, pistolas, etc., colocados numa mesa ao lado do cavalete, para servirem de modelo. A tela era autêntica da época de Debret, porém, submetida à lâmpada Wood, revelou que fora untada com o verniz que impede a verificação de acréscimos recentes aplicados na pintura.

As aquarelas da coleção Castro Maia parecem pertencer a projeto de um quarto volume do Voyage. Alguns desenhos de apontamentos vendidos pelo brasilianista da Rue Arsène Houssaye transformaram-se em vistosas aquarelas, junto de outras quase intatas, apenas levemente realçadas nas cores, tais a Botica de Apoticário, Soldados de São Paulo, Mercador num bote oferecendo fruta a tripulantes de um navio, etc., expediente do antiquário por Debret não carregar no colorido, de mais a mais empalidecido pela longa permanência em pastas. O retoque, entretanto, não os prejudica e felizmente podemos apreciar os que foram divulgados por Castro Maia, pelos Bonneval, Editora Fontana, Boghici e outros, salvos do olvido por mais de um século.

Definitivamente fixado Debret na França, trabalhava com François em vários serviços, dos quais o principal era o restauro da abadia de St. Denis. Absorvido pela ocupação, pouco lazer lhe sobrava para digressões de gênero literário, sendo consideráveis os cuidados que os Debret tinham de dedicar ao monumento, de que existe um desenho do mais moço da irmandade, reproduzindo cena noturna relativa à transferência dos despojos régios, que tinham sido atirados num fosso pelos revolucionários

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