O artista Debret e o Brasil

passo que Jean Baptiste era louvado, exceto pelo Journal de la Décade, descontente com o médico, "poussé à la caricature", observação importante, pois denunciava involuntária insubordinação do pintor à escola a que se filiava. O Journal du Publiciste também notou certo exagero de joias e ornatos na indumentária dos personagens, por entendê-las prejudiciais ao conjunto do quadro. Tocava em outra tendência do pintor, apegado ao costume, mais tarde visível em trabalhos de assunto completamente diverso, como sucedia no enorme quadro Primeira distribuição da Legião de Honra, repetido em todas as pinturas onde apareciam uniformes do exército, cuidadosamente tratados os distintivos dos militares. Felizmente, o Journal de Paris apreciou a figura do jovem Antíoco, apenas considerando Erasístrato demasiadamente carrancudo, observação partilhada pelo crítico Landon nas Nouvelles des Arts. Em todo caso, a tela merecia melhor destino do que padeceu, atirada no porão do museu de Rouen, vindo a sofrer estragos, a ponto de se tornar irreconhecível. Integrava-se no rol dos exemplares de correntes em moda, atingidos, após o fastígio, pelo inevitável desgaste gerado pelo tempo, que seria, no caso, a ação dos românticos contra os neoclassistas, privando-os do apreço do público e dos poderes oficiais, contagiados pelo mesmo desprezo estendido à produção considerada desvaliosa.

Muito antes, porém, dessa manifestação da fatalidade, no mesmo ano de 1804 Napoleão Bonaparte proclamou o Império, promovendo toda sorte de consequências para a França e a Europa. Uma delas, a incidir sobre as Belas-Artes, consistia em o improvisado monarca empregar artistas na publicidade do novo regime. Dando curso à intenção, utilizou-se o corso de um valioso perito de arte, antigo conservador da coleção de pedras trabalhadas, legada por Mme. de Pompadour a Luís XV. Chamava-se Vivant Denon, entrado na diplomacia com estágio na Itália, onde o incumbiram de dirigir as ilustrações da obra do abade de Saint-Nom relativas às antiguidades de Nápoles e da Sicília. Bom desenhista, acompanhou Napoleão ao Egito, de que redigiu volumoso tratado versando

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