O artista Debret e o Brasil

Salon onde fora exibida — "Quem, ao admirar o talento do artista, não chora um esposo, pai ou filho" —, reflexo do travo crescente na população quando se lembrava do preço das vitórias imperiais. Nessa altura, Debret, tornado conhecido, variava da série planificada que o governo lhe encomendava, passando a assuntos do seu maior aprazimento. Em 1808, pintou painéis decorativos no gênero dos que Taunay executara para o Château de la Malmaison. Nos de Jean Baptiste, a primavera era representada por Psiché, o verão e o outono por Baco e uma bacante, e o inverno por Anacreonte disputado por Íris e o amor, pertencentes ao espólio da marquesa de Blaye, leiloados, em 1930, na Galerie Georges Petit. Entretido nessas realizações, Debret continuava a receber encomendas oficiais, comparecendo ao Salon com tela de extensas dimensões, cujo título, não menos longo, era Napoleão condecora soldado russo no dia 9 de julho de 1807 no encontro amistoso dos soberanos moscovita e francês em Tilsitt. A cena reconstituía o pedido de Bonaparte a Alexandre I para que lhe indicasse o seu mais valente cavaleiro, pois desejava condecorá-lo com a sua própria venera da Legião de Honra, beijada a sua mão pelo contemplado.

Novamente, a crítica mostrou-se favorável ao pintor, apenas com a restrição de ele parecer algo apressado no acabamento da pintura, reparo dos folhetos Observations sur le Salon de 1808, Examen Critique et Raisonné des Petites Affiches, L'ombre du Peintre Lebrun e outros. Mais amena era La Grande Revue des Tableaux en Veaudeville, ao comentar o quadro com quadrinhas rimadas tidas, por de Miremonde, "des vers en Mirliton", ou seja, de cordel, a demonstrar a popularidade obtida por Jean Baptiste. Menos indulgentes foram os críticos, que censuravam a posição do ginete de Alexandre I, empinado como os da praça do Quirinal, em Roma. Entretanto, o mesmo praticara David no seu Napoleão na passagem dos Alpes, sendo mais admissível que tanto um como o outro pintor se inspirassem propositadamente em modelos antigos, segundo princípios do neoclassicismo.

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