O artista Debret e o Brasil

grupo de David na pintura e Percier e Fontaine na arquitetura, por sinal assentes entre eles e beneficiados pelo arrimo palaciano, daí excluírem as intervenções de estranhos, e, no caso do traje, após muito questionar, decretaram, com o indispensável beneplácito de Denon, vestisse Napoleão a toga romana desenhada por David. Vencia o acordo estabelecido entre pontífices, congratulando-se a pintura com a escultura, repetido o ajuste quando Canova reproduziu Napoleão em gigantesca estátua, tal divindade helênica, hoje no pátio do Museu Brera, de Milão, obra lastreada de elogios por David, que exclamava: "Vous avez fait pour la postérité tout ce qu'un mortel pouvait faire". No sucesso merecido do grande escultor, a regularidade dos traços do modelo facilitava a sua evocação neoclássica, como tivemos oportunidade de verificar ao ver uma das máscaras mortuárias confeccionadas em Santa Elena por Antomarchi, que nos foi oferecida para comprar pelos livreiros Maggs, de Londres.

A extensão do estilo assim imposto foi comentada por A. Michel: "Le bon sens français (se é permitido falar em bons sens français em época como as da Revolução e do Império) comença par protester", veleidade de resistência ao que se tornara estilo oficial, avolumado no Salon, suscitando reparos desfavoráveis a quadros como Atala au tombeau, de Girodet Trioson, aluno dileto de David, sugerido pelo livro de Chateaubriand, então publicado. Tampouco o famoso Rapto das Sabinas, do mestre, e Paris e Elena, de Hennequim, pintor secundário, protegido pelo pontífice, de quem fora aluno, tiveram melhor sorte. Mas a campanha dos inconformados só começou a surtir efeito com o sucesso de Géricault, a repercutir até na literatura, início da corrente conhecida por Romantismo, apesar da defesa dos neoclássicos que, na sua virulenta contraofensiva, procuravam ridicularizar o principal adversário, grafando-lhe o nome Jerico.

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