Gilberto Freyre, uma biografia intelectual

furiosamente contra "a pueril vaidade dos Albuquerques, Cavalcantis, Lins, Barros, Wanderleys, Barretos, Cunhahús (sic ou Cunhas?), e esses outros que sempre estão a incomodar o Mosteiro de São Bento com certidões de nobreza, brasão de armas, foros etc".(3) Nota do Autor

Frei Caneca, e vários dos seus companheiros egressos do Seminário de Olinda criado nos últimos anos do século XVIII e ao sopro do seu iluminismo chegando ao Brasil, Frei Caneca e companheiros iam passar da teoria à prática, da pregação antioligárquica às insurreições armadas nordestinas de 1817 e 1824, repelidas à força e às custas de muito sangue pelas classes conservadoras, às quais combatiam com tanta violência.

Outro foliculário clerical, Padre Lopes Gama, também negava a orgulhosa prosápia dos Cavalcantis e consortes, os quais, "não satisfeitos com quererem passar por aquilo que não são, isto é, por fidalgos de uma das maiores e mais nobres casas de Florença, ainda se agarram com unhas e dentes aos Albuquerques".

"Mas ninguém ignora que Jerônimo de Albuquerque tendo vivido desonestamente com a cabocla filha do cacique de Olinda Arco Verde, tão desonestamente que a Rainha de Portugal mandou que ele, para que o escândalo cessasse, se casasse com a filha de Cristóvão de Melo (de cujo apelido tiraram alguns a nobreza)", prossegue o ataque de Lopes Gama no seu pasquim recifense O Sete de Setembro (1846), "de modo que para usarem as armas dos Albuquerques - armas a que os Albuquerques Meios tinham direito, por ter sido Jerônimo de Albuquerque fidalgo e se haver casado, por ordem da Rainha, com a filha de Cristóvão de Mello, também fidalgo - os Cavalcantis estavam na obrigação, dentro da heráldica, de apresentar no escudo o sinal de bastardia' ".(4) Nota do Autor

Não bastavam, ao sarcástico sacerdote, as demonstrações da Nobiliarquia Pernambucana de Antônio José Vitoriano Borges da Fonseca, de 1774, nem as anteriores anotações do Livro de Tombo do Mosteiro de São Bento de Olinda. Lopes Gama queria mais e mais provas, isto é, não aceitava nenhuma. Mesmo assim continuavam mandando os Albuquerques e os Cavalcantis do fundo das suas casas-grandes rurais e do alto dos seus sobrados urbanos, para maior fúria dos radicais inclusive clericais. Daí se ter dito, durante muito tempo, que, em Pernambuco, quem não era Cavalcanti, era cavalgado... Muito tempo depois, mantinha-se o Velho Félix "pobre

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