Perfil político de Silva Jardim

caminha sempre, até que uma garganta, subitamente aberta, vomitando fogo, engole-o. Ainda neste momento supremo o herói não se trai por um grito; limita-se a levar as mãos à cabeça, como única testemunha de sua agonia silenciosa. Bela sepultura, o vulcão; estranho destino o do grande brasileiro: até para morrer converteu-se em lava." Magnífica imagem, o da lava incandescente que o consumiu, com o ardente patriotismo que o animou em sua breve existência!

Maurício Vinhas de Queirós aponta o "erro" de Silva Jardim (e assim, a causa do seu insucesso) numa espécie de oportunismo ante os proprietários rurais, irritados com a Abolição, mais visíveis no Estado do Rio de Janeiro. No entanto, Silva Jardim não pensava em mudança estrutural do regime, porém, somente em sua transformação política. Criticou mesmo a Abolição pela sua falta de complementaridade, aliás, com razão, como a da distribuição de terras aos libertos, entrega de moradias e meios para sua instrução. Por conseguinte, seus "erros" devem ser procurados em outros aspectos de sua atuação. Antes de tudo em sua concepção ortodoxa positivista da República almejada, afastando-o de Quintino e outros republicanos liberais. Seus princípios "revolucionários" diversos dos "evolucionistas" que o afastaram dos conciliábulos da conspiração republicana. Além disso, seu imenso prestígio pela difusão da ideia republicana entre a grande massa popular urbana, tirando-a das elites militares e acadêmicas, formou-lhe um orgulho pessoal característico, dando-lhe certo autoritarismo em sua ação partidária, antipático aos adesistas de última hora. Estes, a nosso ver, constituíram os tropeços decisivos que teve de enfrentar, colocando-o abruptamente na dicotomia perversa entre o "sonho e a realidade", antípodas difíceis de serem conciliados. Quando acalentamos uma ideia a que decidimos dedicar toda nossa vida e esforços, não levamos em conta seu impacto com a realidade, cheia de ambições humanas estreitas e interesses mesquinhos, julgando-a sacrossanta para nós e igualmente para todos os demais. Assim, para Silva Jardim a ideia da República constituía sonho de libertação geral, onde desapareceriam a miséria, a opressão e exploração do fraco pelos poderosos, em verdadeira fraternidade universal. Essa defasagem entre o ideal e o real faltou a Silva Jardim, não lhe permitindo a flexibilidade para seu bom desempenho dentro dos meandros político-partidário dos primeiros tempos da República.

Mas, essa conduta ereta, que constituiu sua insuficiência política, conduzindo-o à grande derrota no primeiro grande embate

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