É mister, porém, reconhecer, com justiça, que, nesses tentâmens de interpretar ou de restaurar vocábulos tupis etimologicamente, aos esforços expendidos têm, quase sempre, correspondido resultados promissores.
No livro, como nas revistas, na imprensa diária, como nas palestras literárias, é o assunto, de contínuo, debatido, não raro com largueza e proficiência, logrando, sempre, geral aceitação, o que anima e estimula os investigadores.
Observa-se, porém, e não há negá-lo, nas investigações deste gênero, entre nós, certa falta de método, uma tal ou qual discrepância na aplicação dos processos lógicos de investigar, que não podem deixar de afetar, tornando-os incompletos, os resultados obtidos.
Basta isto para justificar o que passamos a expender no presente capítulo.
130 - O estudo etimológico dos nomes tupis, com aplicação na geografia ou na história nacional, é, a meu ver, um trabalho mais de investigação histórica do que propriamente de lexicologia.(250) Nota do Autor
Sendo o tupi, como é, uma língua aglutinante, com os elementos componentes quase integrais, ou muito raramente contratos, a palavra, nesse idioma, com facilidade se analisa; ainda quando metida numa como que encapsulação, em que os vários elementos se envolvem uns aos outros, as linhas de separação destes não desaparecem totalmente, e a desagregação de tais elementos habilita o interpretador a traduzir. O problema mais importante, o estudo mais sério, e, a meu ver, essencial, é o da identificação histórica do vocábulo ou a restauração de sua grafia primitiva, tal como ela simbolicamente representou, em outro tempo, a palavra falada.
É mister, portanto, ler os documentos mais antigos, as crônicas, roteiros, relações de viagem, os mapas geográficos que primeiro se publicaram e que possam encerrar o tema ou o vocábulo a interpretar, e aí surpreender-lhe a grafia antiga, decerto a mais verdadeira, pois que é de supor fosse a representação simbólica mais fiel dos sons recolhidos diretamente do gentio ou dos seus imediatos descendentes e, portanto, mais isenta dos efeitos provenientes do diuturno contato com a língua que ficou prevalecendo.
Conseguida a restauração histórica do vocábulo, fácil será explicar como ele se alterou ou como evolveu até nós, porque invariáveis e positivas são as leis filológicas que regem a espécie.
Sem a restauração do vocábulo com a sua grafia primitiva, como um processo prévio e essencial, difícil e quase insolúvel, em certos casos,