de Farim. Lá criou-se e fez-se homem. Começou logo a trabalhar como capataz de estrada, funcionário dos correios, e em seguida ingressou no quadro administrativo daquela Província, como amanuense. Quando casou (aos 19 anos) com D. Carmem, uma cabo-verdiana da Ilha da Brava, sobrinha do administrador de Farim, já exercia a função de secretário. Seguiu carreira, chegando até administrador de 2ª.
Achando-se injustiçado no concurso que fez para ascender a administrador, reformou-se prematuramente do quadro administrativo, passando a trabalhar na Casa Gouveia (associada à C.U.F.)(1) Nota do Autor, como subgerente da empresa. Lá permaneceu até os finais da década de 50 quando, em virtude de certos incidentes ocorridos, foi mais uma vez obrigado a emigrar. Saiu de Guiné, fixando-se desde então, e definitivamente, em Lisboa.
Reformado e estabelecido em Portugal, passou a dedicar-se exclusivamente à investigação etnográfica e histórica, atividade que já exercia sistematicamente em Guiné desde, pelo menos, os anos 40.
Suspendamos aqui a apresentação de sua biografia, e reflitamos um pouco sobre ela.
Nascer no início do século (1905), e na Ilha do Fogo, marca Carreira e a sua obra. Nessa época, a sociedade cabo-verdiana conservava ainda muitas "sobrevivências" da era escravocrata, sobretudo, a sua Ilha natal. Várias fontes o comprovam, entre elas estudos de especialistas cabo-verdianos da geração dos participantes da revista Claridade.(2) Nota do Autor.
Carreira recordava a sua infância povoada de relações servis, casas-grandes, teares já danificados ou emperrados pelo desuso, restos físicos do que tinha sido Cabo Verde, assinalando a agonia lenta da antiga sociedade. Todo este mundo de infância não terá estimulado o autor para a investigação histórica?
Por outro lado, a sua inserção, já na adolescência, num meio tão rico e diverso como o de Guiné, o despertou certamente para o conhecimento dos "segredos" daquela gente. Começando por dominar algumas línguas existentes naquele território (mandinga, fula, manjaco), enveredou pelo caminho da "decifração" daquela realidade.
Pela relação de suas publicações é facilmente reconhecida a evolução de seus trabalhos: partindo de estudos parciais, monografias e levantamentos