defender a sua integridade física contra as investidas de uma aristocracia falida e falhada, quando se tornou polêmica a sentença que condenou a família Távora ao suplício - e de que nos resta ainda uma prova material na Travessa das Salgadeiras, em Lisboa. Pois, os que ainda hoje querem atacar e denegrir a memória do Marquês ignoram a existência, nos Arquivos de Lisboa, de documentos que deveriam servir para o esclarecimento de todo esse imbróglio da condenação dos Távoras, e que se designam por:
1º) "Junta da Inconfidência. Para castigo dos réus do bárbaro e execrando desacato que, na noite de 3 de setembro de 1758, se cometeu contra a real, sagrada e augustíssima pessoa de El-Rei, e respectiva sentença" (17 de janeiro de 1759).
2º) "Erros ímpios e sediciosos que os religiosos da Companhia de Jesus ensinaram aos réus que foram justiçados e pretenderam espalhar nos povos destes reinos" (3 de setembro de 1759).
Nestes documentos - a apodrecer nos arquivos - pretende-se analisar os acontecimentos sobre os diferentes aspectos "políticos, sociais, filosóficos, morais e religiosos" (citamos de memória) de que se revestiu a sentença.
É possível que alguém estrábico dissocie estes documentos do nosso tema. Pelo contrário, estão direta ou indiretamente entrosados na decisão tomada quanto à instituição da poderosa empresa monopolista que foi a Companhia do Grão-Pará (e a de Pernambuco e Paraíba) e em toda a atuação do Marquês.
Não nos pareceu razoável deixar de referir, mesmo em traços gerais, a figura cimeira da política da segunda metade do século XVIII - Sebastião José de Carvalho e Melo. Nasceu em Soure, em 1699, filho de Manuel de Carvalho, Capitão reformado, "cavalheiro distinto mas pobre", e de D. Teresa de Mendonça, de família ilustre. Estudou em Coimbra, com os jesuítas, "os primeiros elementos das ciências", e veio a ser um funcionário modesto, em Lisboa. Debalde pretendeu ingressar na sociedade lisboeta e obter posição entre as classes destacadas, um tanto com a proteção do tio, Paulo de Carvalho, que o recomendou ao Cardeal João da Mota, pessoa das relações de D. João V. Mas tudo isso não surtiu os efeitos desejados, pelo que se manteve numa posição apagada. Tenaz, persistente, teimoso, depois de ter sido repudiada a sua pretensão de casar com Teresa de Noronha, viúva e aristocrata, veio a herdar alguns cabedais por morte de seu tio, à custa dos quais começou a ser melhor aceito em certas camadas. Em 1738, em face da "miserável decadência do comércio" português, D. João V nomeou-o ministro plenipotenciário na corte britânica, onde permaneceu até 1745, regressando a Lisboa. É então nomeado, em missão diplomática, para Viena de Áustria. Aí conheceu Leonor Ernestina de Daun, bastante nova, mas filha de famílias abastadas. Casa-se e regressa a Portugal, já depois de se tornar, sob a influência das ideias iluministas de então, um português "estrangeirado", bastante conhecedor das correntes de pensamento dominantes na Europa e, sobretudo, dos problemas da economia da época. Assistiu em Inglaterra ao desencadear da política mercantil que conduziria ao aperfeiçoamento dos mecanismos do funcionamento das Companhias das Índias Ocidentais, formadas no século