e esmero. Quem se der ao cuidado de compulsar o segundo volume (no qual se condensa a documentação que serve de suporte à nossa exposição) verificará facilmente da justeza destas afirmações. Isto poderá parecer descabido neste contexto, mas tem a sua razão de ser. Temos sido alvo de críticas verbais, surdas, da parte de certos setores de "oficiais" do mesmo ofício, segundo informações que alguns amigos nos trazem. Todavia, que nos conste, ainda nenhum desses críticos de pacotilha se atraveu a apontar os defeitos, as faltas, a nossa impreparação, a despeito de havermos publicado já mais de uma vintena de livros e 60 artigos, versando temas de ciências humanas e sociais e, nos últimos anos, no domínio da história econômica e social. E somos os primeiros a reconhecer nesses trabalhos muitas deficiências, talvez mesmo enquadramentos errados. Quem dá o que tem... não é a mais obrigado. E o que realizaram tais críticos? É melhor nem falar nisso.
Tínhamos de ter este desabafo na altura em que damos início a um estudo para o qual temos carreado elementos desde 1965 - há, portanto, mais de 20 anos.
2 - Será talvez uma incoerência abordar a atividade da Companhia do Grão-Pará e Maranhão, sem fazer um esboço de quem foi Sebastião José de Carvalho e Melo. Acerca deste estadista, demos uma ligeiríssima nota na "Introdução" a um livrinho editado (2ª ed.) em janeiro de 1983, mas redigido em agosto/setembro de 1981, portanto, em data próxima da comemoração do segundo centenário de sua morte (1782). A esse propósito - e antes de fazermos com maior soma de pormenores - seja-nos permitido transcrever o que na altura dissemos: "E a rematar: em 1982 passa o segundo centenário da morte do Marquês de Pombal. No Brasil prepara-se a comemoração da efeméride, em reconhecimento da sua obra que, com todos os possíveis defeitos, podemos considerar ímpar e incomparável na história de Portugal. E aqui o que se projeta a esse respeito? Parece que os intelectuais cá do sítio têm uma palavra a dizer sobre tão relevante evento. Mas (ou nos enganamos) eles continuarão mudos e quedos, assustados possivelmente por se falar no nome do grande estadista. Infelizmente ainda agora alguns indivíduos persistem em dar destaque aos (poucos) aspectos nefastos (a perseguição aos jesuítas, o suplício dos Távoras) da ação do Marquês, com o objetivo de anular o tanto que há de positivo. É tempo de se pôr termo a este tipo de anedotas. A tacanhez não dignifica ninguém. Se não tivesse havido no país, ainda que de longe em longe, uma ou outra figura de projeção intelectual, quase que se poderia pensar que constituímos, na cauda da Europa, uma comunidade de pigmeus, culturalmente ao nível dos que vivem nas florestas do Ituri!"
Parece que isto constituiu profecia. As comemorações, anunciadas nos primeiros meses de 1982, foram circunscritas a discursos de circunstância, vazios de conteúdo histórico, verdadeiras anedotas que não dignificaram sequer a Comissão autonomeada. Tudo decorreu naquela "apagada e vil tristeza" de que nos falou o insigne vate. E não estivéssemos nós em Portugal!
Este episódio ilustra o que se passa em matéria de cultura. E, sem nos desviarmos da época pombalina, trazemos à colação um outro fato. Até os menos elucidados têm conhecimento da ferocidade com que o Marquês procurou