Brasil: a terra e o homem. A vida humana

Condições humanas

Excetuados o sul da Bahia e o norte do Espírito Santo, que são áreas de povoamento mais recente, a região em estudo foi a primeira a ser colonizada e a primeira a apresentar um desenvolvimento econômico importante no Brasil. A ocupação da terra se fez à base do cultivo da cana-de-açúcar, que muito cedo se tornou a planta exclusiva da paisagem rural do nordeste úmido e do Recôncavo Baiano.

Dando origem ao latifúndio monocultor e à aristocracia rural dos "senhores de engenho", a colonização do nordeste açucareiro iria criar uma série de problemas econômicos e sociais que até hoje se refletem em sua vida econômica. Os mais importantes para a explicação do seu desenvolvimento são os seguintes: 1) instabilidade econômica, característica de toda economia de base monocultora; 2) estrutura social de tipo feudal, em que apenas se distinguem senhores e "servos da gleba", estes últimos representados pela imensa massa de assalariados que vive miseravelmente devido ao seu baixo padrão de vida; 3) regime alimentar defeituoso, com carências diversas, determinado pelo domínio tirânico da cana-de-açúcar, que impossibilita o cultivo de gêneros alimentícios; 4) subnutrição e analfabetismo generalizado, reduzindo a capacidade de iniciativa e trabalho da maioria da população.

Equipamento econômico

Todas as atividades econômicas até agora realizadas nesta região basearam-se em produtos destinados aos mercados externos, especialmente os do sul do país. Daí a importância que apresentam, em sua vida econômica, os transportes marítimos. A esse respeito, aliás, a região é relativamente bem servida de portos, destacando-se, entre estes, os de Recife e de Salvador. Mas há regiões, como a do sul da Bahia, importante por sua produção de cacau e que, praticamente, não possui instalações portuárias. O embarque de cacau é feito por batelões que vão abordar os navios ancorados ao largo da costa.

As condições técnicas da agricultura são de um primitivismo alarmante. O arado tirado por animais, a enxada e a foice, o carro de boi, etc., são ainda os elementos básicos da infraestrutura agrícola. A ignorância, a subnutrição e as doenças atingem a maioria dos trabalhadores rurais. Com a criação da SUDENE houve um como que sopro de esperanças, mas esse sopro já está quase desvanecido.

Desenvolvendo uma política de industrialização em detrimento de uma política de reforma agrária devido, diga-se de passagem, à oposição criada pela aristocracia rural, a SUDENE não pôde, até hoje, resolver os problemas que lhe estão afetos. Toda a problemática do Nordeste, considerado em seu conjunto, repousa na melhoria das condições técnicas, sociais e econômicas das suas atividades rurais. Enquanto não se conseguir a melhoria das condições de vida do homem do campo, o desenvolvimento industrial planejado estará fadado ao malogro.

Os menos avisados poderão pensar, à primeira vista, que o desenvolvimento industrial será um fator de absorção da mão de obra ociosa das zonas rurais ou das áreas marginais das grandes cidades. Isto entretanto não ocorrerá, visto que um dos objetivos da SUDENE é o de só aprovar projetos de plantas industriais que apresentam estruturas tecnologicamente avançadas, isto é, que dependam o mínimo possível de mão de obra. De outro lado, o mercado que essa indústria poderá conquistar será o da própria região nordestina e, em parte, o da Amazônia. Mas esse mercado é praticamente inexistente, devido ao baixo poder aquisitivo da sua população. Neste dilema está o desafio do Nordeste. É de sua solução, que esperamos seja alcançada, a libertação da miséria em que ainda vivem os milhões de brasileiros que ali enfrentam mentalidades e estruturas sociais arcaicas.

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