O naturalista no Rio Amazonas - T2

palheta no bocal. É essa a trombeta de guerra de muitas tribos de índios, com as quais as sentinelas das hordas depredadoras, trepadas em altas árvores, dão a seus camaradas sinal de atacar. Os brasileiros mais velhos, que ainda se lembram do tempo das guerras entre selvícolas e colonos, conservam verdadeiro horror ao turé, pois suas notas rudes e altas, ouvidas na calada da noite, foram muitas vezes o prelúdio de um assalto dos sanguissedentos Mura aos povoados dos arredores. O restante dos homens carregavam arcos e flechas, feixes de javelinas, cacetes e remos. As crianças maiores traziam consigo seus chirimbabos; alguns tinham nos ombros macacos e coatis, e outros carregavam tartarugas na cabeça. As mulheres transportavam os filhos em aturás, ou grandes cestos, pendentes nas costas e seguros por larga faixa, feita de casca de árvores, que lhes cingia a fronte. Tudo era cuidadosa representação da vida dos índios que demonstravam mais engenho do que o que muitas pessoas lhes atribuem. Isso era feito por eles espontaneamente e apenas com o fito de divertir o povo da localidade.

Toda a produção de cacau, peixe salgado e outros artigos de uma enorme área passa pelas mãos dos negociantes de Santarém, e se faz um grande comércio, para essa região, com os índios do Tapajós, em salsaparrilha, bálsamo de copaíba, borracha, farinha e outros produtos. Disseram-me que a produção anual média do Tapajós em salsaparrilha era de cerca de duas mil arrobas de 32 libras. A qualidade da droga encontrada nas matas do Tapajós é muito superior à do Alto Amazonas, e sempre consegue no Pará preço duas vezes maior. Os negociantes mandam jovens brasileiros e portugueses em pequenas canoas a comprar o produto nos igarapés, e as cargas são embarcadas para a capital em escunas e cobertas,

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