O naturalista no Rio Amazonas - T2

boas, sobretudo em gramática. Demonstraram uma rapidez de apreensão que encheria de alegria o coração de qualquer dos nossos mestres. O curso seguido nos colégios do Pará deve ser muito deficiente, pois é raro encontrar um paraense educado que tenha a mais leve tintura de ciências naturais, ou mesmo de geografia, se não viajou fora da província. Os rapazes se fazem todos espertos retóricos e bacharéis; qualquer deles está pronto a defender uma causa, com uma hora de estudo; são também fortes em estatísticas, pois há um grande campo para sua aplicação no Brasil, onde cada funcionário público tem que fornecer anualmente ao governo volumes de secos relatórios; mas são tremendamente ignorantes sobre a maioria dos outros assuntos. A gente inteligente suspeita de suas deficiências a esse respeito, e é difícil sondá-los em geografia, mas certo dia um homem que ocupava importante cargo, se traiu, perguntando-me de que lado do rio estava situado Paris. Esta questão não provinha, como se poderia supor, do conhecimento exato da topografia do Sena, mas da ideia de que o mundo todo era um grande rio, e que os diferentes lugares de que ele ouvira falar, deviam estar numa ou noutra margem. O fato do Amazonas ser um rio limitado, tendo sua origem em estreitos regatos, ter nascente e foz, nunca entrara na cabeça da maioria daquela gente que passara a vida toda em suas margens.

Santarém é localidade muito agradável para se morar, apesar de sua sociedade. Não há insetos nocivos: mosquitos, piuns, maruins ou motucas. O clima é magnífico. Durante seis meses do ano, de agosto a fevereiro chove muito pouco, e o céu se conserva escampo durante semanas a fio e o vento fresco do mar, que dista umas quatrocentas milhas, modera o grande calor do sol. Às vezes o vento sopra tão forte, dias e dias, que é difícil avançar contra ele, quando se caminha pelas ruas,

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