O naturalista no Rio Amazonas - T2

obtinha-se trabalho facilmente e dominava a maior ordem, simpatia e contentamento. A contenda política entre os brancos, que começaram as perturbações, tiveram como desfecho, nesta parte do país, uma revolta dos índios. Havia dois partidos no começo da luta: um tolerante dos bicudos (como eram apelidados os portugueses) e apoiando o governo legal brasileiro; o outro favorável à revolução, expulsão dos portugueses, e governo nativo. O último cooperou com grande corpo de rebeldes, que se tinham reunido, não longe daí, nas margens do rio. Um belo dia, de acordo com o combinado, a cidade foi invadida pela horda de velhacos e patriotas iludidos. Todos os portugueses e aqueles que os defendiam foram brutalmente massacrados por essa malta enfurecida, quando lhe deitaram as mãos. Um espaço cheio de valados, com tufos de murtas, nos bosques atrás de Santarém, marca o ponto onde estes pobres homens foram assassinados. Eu poderia escrever uma história com os horrores desse tempo que me foram relatados, mas penso que as minúcias não teriam nenhuma finalidade útil. Não se pense, porém, que a gente amazônica seja habitualmente sanguinária. Ao contrário, a quietude e gentileza de caráter dos habitantes desta província, nos tempos de paz, são proverbiais em todo o Brasil. A raridade ou ausência de mortes violentas é comentada todos os anos pelo Presidente em seu relatório anual ao Governo Central.

Quando os Cabanas entraram na cidade, os amigos do governo legal retiraram-se para um grande bloco de casas perto da praia, e que defenderam durante muitos dias, protegendo o embarque de suas famílias e alfaias. Os negros escravos ficaram geralmente fiéis aos senhores. Enquanto se processava o embarque, houve uma série de feitos arriscados, principalmente por parte da

O naturalista no Rio Amazonas - T2 - Página 41 - Thumb Visualização
Formato
Texto
Marcadores da Obra