O naturalista no Rio Amazonas - T2

gente de cor. Um bravo mameluco, chamado Paca, fez certo dia audaciosa sortida, com alguns jovens da mesma têmpera, e agarrou cinco ou seis dos chefes rebeldes, que foram carregados, amordaçados e manietados, para bordo de uma escuna no porto. Mas o partido legal era muito diminuto, faltando-lhe armas e munições, e foram obrigados, logo depois da façanha de Paça, a evacuar a cidade, e retiraram-se para a vila de Prainha, 150 milhas mais abaixo. Os cidadãos de Santarém, que simpatizavam com os rebeldes, foram obrigados pouco depois a seguir o mesmo caminho, pois a revolta tomou o aspecto de guerra entre índios e brancos. Os peles-vermelhas fizeram, porém, exceção em favor dos poucos moradores ingleses e americanos. O capitão Hislop ficou na cidade durante sua ocupação pelos Cabanas, e disse-me que foi muito bem tratado pelos índios e chefes rebeldes.

Quando Santarém foi recapturada, nove meses depois destes acontecimentos, por pequena força de terra e mar, enviada do Rio de Janeiro, e auxiliada pela gente que se refugiara em Prainha, foi de novo atacada por grande força de índios. Isto demonstra de maneira evidente o caráter obstinado e o cego destemor dos indígenas. Esperava-se um ataque, pois se sabia que os rebeldes estavam ocultos, em grande número, nos arredores da cidade. Por isso o comandante da guarnição, capitão Leão, tinha levantado paliçadas em torno dos quarteirões dos brancos e todos os homens dormiam armados. Os índios atuaram como se fossem inspirados por diabólico fanatismo pois não tinham armas, exceto lanças de madeira, bastões e arcos e flechas, uma vez que a pólvora e o chumbo tinham acabado há muito tempo. Com estas armas grosseiras vieram por matas e campos atacar a cidade agora fortificada. O ataque teve lugar ao amanhecer. As sentinelas foram mortas ou

O naturalista no Rio Amazonas - T2 - Página 42 - Thumb Visualização
Formato
Texto
Marcadores da Obra