Reformador, sem dúvida, e como ele mesmo dissera, "robustecido de severa moral" (13) Nota do Autor tinha todos os ingredientes espirituais para vir a ser um autêntico "Aristófanes de pixaim" se o meio estivesse tão amadurecido e evoluído que comportasse a criação de um teatro de costumes e, mais que isso, de crítica de costumes.

A época era ingrata e Gama satisfez-se com o remoque escarninho de seu ditos maledicentes. E seu verso, muito frequentemente, justifica a classificação de Coelho Neto: "leve como a flecha, silva, vai direito ao alvo, crava-se e fica vibrando." Vejamo-lo em outras arremetidas.

A moda lançara, no seu tempo, a saia-balão, a tremenda traquitana que nós, hoje, nos assombramos haja havido gente com a coragem de a carregar, mas que as mulheres, sempre dóceis e obedientes aos ditames daquilo que se apresenta como novidade do bem trajar, não se negaram a ostentar, principalmente nas festas e cerimônias solenes. A saia-balão foi uma das ojerizas de Gama. Andou com ela sempre às testilhas e não lhe regateou nem chacotas, nem bufonerias. Dedicou-lhe uma de suas mais extensas composições: trinta e uma oitavas em tetrassílabos, a que se intitula "O Balão":

"Requeiro, ó Musa

do grande Urbino,

pincel divino,

d'alto rojão;