Viagem às nascentes do Rio São Francisco e pela província de Goiás 2º vol.

termos de comparação diferentes dos que me poderiam fornecer a Alemanha e a França, países elevados ao mais alto grau de esplendor pelos esforços de uma longa série de gerações. Percorrera não somente o litoral do Brasil, como ainda passara quinze meses na parte mais civilizada da província de Minas Gerais, acolhido com tanta benevolência, que me identificara com os interesses dos seus habitantes. Encontrava-me quase na posição em que estaria um mineiro, que, após ter estudado o seu país, quisesse conhecer também as outras partes do Brasil. A província de Minas é uma espécie de padrão em face do qual coloco, por assim dizer, cada uma das províncias que percorri mais tarde, e dessas aproximações ressalta que, descrevendo estas últimas, completo as minhas relações precedentes.

Desgraçadamente. devo dizê-lo, a comparação não será favorável a Goiás, este pobre país por tanto tempo entregue a uma administração quase sempre imprevidente, muitas vezes espoliadora, e encontrarei maior diferença ainda, quando comparar a parte oriental de Minas Gerais com a parte mais ocidental, que, em geral, foi povoada pelo rebotalho das comarcas mais antigas.

Poderão supor, quiçá, que as minhas descrições, referindo-se a uma época já assaz afastada, não representam mais a atualidade. Que não se julgue, pela Europa, do interior da América. Nas regiões desertas as coisas só se modificam com extrema lentidão; faltam os elementos para grandes progressos; uma população rarefeita, disseminada por imensa superfície, abandonada a si própria, enervada por um clima tórrido, sem emulação, quase sem necessidades, não modifica coisa alguma, não quer e não sabe mudar nada. O botânico Jorge Gardner percorreu, em 1840, uma pequena parte do deserto que visitei em 1818; viu o que eu próprio já observara, e nada mais.

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