e quando já nessa época, apesar de guardada toda a reserva, era corrente, coisa assentada e decidida, o referido auxílio.

A Companhia Geral de Estradas de Ferro era uma das muitas célebres empresas organizadas em consequência da criação dos bancos de emissão, e justamente aquela, em que a magia mais se havia aperfeiçoado, com elevar quase ao infinito, por artes de berliques e berloques, de passes e contrapasses, seu imenso número de ações. Era, por assim dizer, uma enorme "pieuvre" de inúmeros tentáculos, sob os quais, comprimidos, gemiam todos ou quase todos, que, na capital federal, e nos estados mais próximos a ela, dispunham de pecúlio, ainda que pequeno fosse. Era uma rede sem fim, e de cujas malhas só puderam escapar, embora gordos e sadios, aqueles que a haviam tecido. Era, finalmente, uma companhia completamente falida, cujas ações não tinham cotação na praça, e as quais, logo depois de divulgada e espalhada a notícia de haver sido cassado o célebre e misterioso aviso que mandava entregar-lhe as sobras do Tesouro, eram vendidas com abatimento de mais de 95%. Tal importava em dizer um escritor, que elas eram vendidas aos quilos para papel de embrulho.

Não sendo questão de dúvida a honestidade pessoal de nenhum dos membros do Ministério Lucena, mas desfalcando este a fortuna pública em muitos milhares de contos de réis em favor de uma empresa particular que nenhuma garantia podia oferecer à vista de suas condições financeiras, e uma vez que sobre a probidade de alguns diretores corriam versões pouco lisonjeiras que os levaram até ao julgamento dos tribunais, parece que outro não foi o fim do ministério senão formar, por esse meio, adeptos em torno ao governo mais impopularizado ainda com a concessão do porto das Torres.

Vendo a grita que este seu impensado ato havia levantado entre todas as classes sociais, sentindo o vácuo que em torno a si se formava, causando-lhe apreensões a oposição da imprensa e a do Congresso, esta já bem numerosa, parecendo-lhe ao mesmo tempo que a quadra, que o país atravessava,