O governo provisório e a revolução de 1893 - 1º v.

havia deprimido o caráter nacional, — e, portanto, a reprovação quase geral ao presente da concessão do porto das Torres, não provir somente da revolta do patriotismo contra o desfalque, por esse meio, causado aos cofres públicos, mas também do espírito de inveja, de ganância e mercantilismo, naquela época excessivamente desenvolvido, — compreendeu, de si para si, que, distribuindo em larga escala presentes da mesma ou idêntica natureza, granjearia simpatias, conquistaria popularidade, diminuiria oposição tão veemente.

Era a corrupção o que imaginara o Barão de Lucena; e para lá chegar escolhera a Companhia Geral de Estrada de Ferro, à qual, como já é sabido, fora confiada maior sotaina de interesses, e a favor da qual fortemente se empenhavam os bolsistas poderosos e não pequeno número de congressistas, todos nela envolvidos. Esse plano, se produziu fora do Congresso alguns dos efeitos desejados, dentro dele fez aumentar consideravelmente a oposição, disposta a dar combate sem tréguas a um governo que para manter-se no poder, lançava mão de meios indecentes, comprometedores das finanças do país.

Diante desta oposição, dia a dia a tornar-se mais numerosa, mais forte pela unidade de vistas e solidariedade entre seus membros, ao aproximar-se a eleição presidencial, que teria de seguir-se logo à promulgação da Carta Constitucional, entendeu o governo, como meio de fazê-la parar na marcha progressiva que levava, ameaçar o Congresso com a dissolução pelo Exército, caso fosse derrotado o Marechal Deodoro da Fonseca, seu candidato à Presidência da República. Com esse fim incumbiu a alguns congressistas, amigos seus, de propalarem esta ameaça ao poder legislativo.

Grande foi a indignação que provocou entre os oposicionistas este insólito, imprudente, ousado e antipatriótico procedimento do governo; e em casa do Marechal José Simeão, este, o Marechal Floriano Peixoto, os Drs. Demétrio Ribeiro Astolfo Pio e o humilde autor deste trabalho, todos congressistas,