Nas serenatas de Junho na rua do Vintém
a saliva gelada pingava das flautas
gota a gota
e fugia das flautas
nota a nota
a valsa dolorosa
enchendo de saudade
a cidade cheia de névoas
cheia do choro dos Inconfidentes,
dos estudantes bêbados
das moças dormindo, dos pecados acordados
e dos velórios merencórios
a que a ilusão do conhaque
do violão e do romantismo
davam o esplendor imperioso
e o luxo literário
do festim de Manfredo...
Mestre Aurelio não ouve os próprios passos,
não ouve os ventos,
não ouve nada.
Seus ouvidos finos estão ouvindo
os outros passos que já pararam
as outras bocas que já calaram
e uma voz comprida
que soluça a "Saudade de Ouro Preto"
numa flauta desmesurada...
Uma voz desmesurada
numa flauta desmesurada...
Uma flauta cada vez maior cada vez mais preta
que atravessa Minas Gerais
de Sul a Norte
de Leste a Oeste,
soprada por um anjo de pau, atlético e eterno,