Homens e fatos do meu tempo

chapéus desabados, envoltos em negras capas roçagantes, de conspiradores.

Sobrelevando a tais cousas, — tal como agora, no Rio, — furibundas cartas anônimas ao diretor e aos professores do Liceu, ameaçando-lhes fazer-se a casa voar pelos ares, a bombas de dinamite.

Foi mister a intervenção da polícia: um pelotão de soldados, com armas embaladas, postou-se em frente ao estabelecimento. Cochichavam-se cousas pavorosas; havia fulgores sinistros nos olhares.

Sob tal atmosfera trepidante e pávida, começaram-se, nesse dia, os exames. Fazia parte da turma a ser examinada uma jovem patrícia, creio que de S. João d'El-Rey, de raro preparo e de não menos rara beleza.

A sala regorgitava de espectadores: professores, estudantes, curiosos, autoridades policiais.

O exame foi esplêndido. Quando se proclamou o resultado do mesmo aprovando-a com distinção, estrugiu uma salva de palmas atroadora, sincera, infindável... E (ó milagres do fulgor do talento, do prestígio da beleza e da generosidade dos moços!) toda aquela mocidade, ainda há pouco sedenta de vingança e tumente de ódio, levada, agora, por um tocante impulso irreprimível de confraternização e de reconciliação, cobriu de variegada chuva de pétalas de flores a colega distinta e os próprios examinadores, que tinham sabido galardoar o mérito, e a quem, pouco antes, haviam ameaçado com a morte afrontosa pela dinamite.

Que formoso folhetim comovente escreveu, nesse dia, a tal respeito, no jornal que, então, redigia em Ouro Preto, o eminente decano de nossos jornalistas, o venerando patriarca das letras mineiras, o grande e querido Diogo de Vasconcellos!

Homens e fatos do meu tempo - Página 305 - Thumb Visualização
Formato
Texto