Homens e fatos do meu tempo

Também para que disfarçá-lo? Era justo, era humano que nos sentíssemos assim tão bem, no enterro de Mestre Aurelio.

Éramos um grupo reduzido de amigos, que nos juntávamos naquela última festa em torno do melhor homem de Minas Gerais.

O respeito pela grave cerimônia, o pesar pela grande perda não se abastardavam com o bulício e a espetaculosidade dos luxuosos préstitos funerários, nem com a exibição nevropata dos trágicos desesperos daqueles que não sabem compreender o recato e a dignidade da morte. Nosso respeito e nosso pesar se fundiam em ternura.

Ternura pelas barbas, pelos olhos cândidos de Mestre Aurelio, pela sua vida pura de erudito de província, pelo seu coração cheio da poesia dos mundos.

Ternura pelo funcionário público que passeava entre as rosas, de braço dado com a saudade, a sua última companheira.

Ternura pelo moço das serenatas de Diamantina e de Ouro Preto, cuja voz, emudecida, iria ecoar agora do outro lado, no país cujos ruídos não ouvimos, acompanhando o coro das outras vozes, caladas há tanto tempo.

Ternura pelo professor da ciência da vida.

Os poucos amigos marcham passo a passo, acompanhando Mestre Aurelio na sua mudança para a última casa.

Era como um passeio um pouco triste, um caminhar pausado sob as folhagens amenas, entremeado de conversas simples, francas e tranquilas.

A tarde era uma tarde de igreja de Minas. Decididamente os nossos velhos templos tinham cedido um pouco de suas cores em homenagem a Mestre Aurelio. O céu enfeitado de pequeninas nuvens estava azul e branco, como o manto de Nossa Senhora de Sabará. A Virgem

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