Não podemos deixar de mencionar a atuação de um dos maiores naturalistas, dr. Alexandre Rodrigues Ferreira. É verdadeiramente assombrosa a produção deste sábio baiano. Tão profundos, vastos e variados foram seus conhecimentos, que lhe valeram o justo cognome de Humboldt brasileiro. Deixou um cimélio de manuscritos e desenhos do maior interesse para a ciência brasileira.
Por felicidade nossa, a maior parte se acha religiosamente guardada na Biblioteca Nacional, no Museu e no Instituto Histórico. Antes disto uns foram extraviados, outros subtraídos.
Das riquíssimas coleções, por ele organizadas com a maior dedicação, esforço e risco de vida, parte foi transportada para Paris, pelos invasores de Portugal em 1807. Saint Hilaire e outros sábios utilizaram-se dos trabalhos de Alexandre Rodrigues Ferreira, conseguindo a láurea que a este pertenceria, por direito de conquista e prioridade, se seus manuscritos tivessem sido logo publicados. A ingratidão e a indiferença dos governos pela divulgação dessa obra inestimável e a pobreza, apanágio quase inerente aos super-homens, minaram-lhe a saúde. Aquele que mais contribuiu para a magnitude da ciência brasileira, o maior cientista baiano, quiçá brasileiro, depois de ter solicitado do governo português o lugar de secretário da alfândega de Pernambuco, no fim da vida, assistiu tristemente se lhe apagar o poderoso fanal da sua inteligência, velado pelo atroz nevoeiro da melancolia. Mais de um século já decorreu após sua morte, e, para que se não perpetue a letargia fatal do esquecimento, ainda é tempo de sua terra natal, a Bahia, ressarcir a grande dívida de gratidão.
Se em vida se lhe ajustou, a rigor, o "Sic vos, non vobis mellificatis apes" — justo não é se perpetue sobre