Memórias de um Cavalcanti: 1821 - 1901

mais típicos e omitido somente transcrições e repetições sem interesse, ou notas ainda hoje indiscretas. Nesse trabalho de seleção e revisão do caderno do pachorrento memorialista da família, Diogo Menezes tomou ainda a liberdade de uniformizar a ortografia pela adotada por Felix Cavalcanti nos seus últimos anos; e a de omitir ou resumir comentários.

O caderno — que é quase um diário — traz a história exata do tal negro que caiu da torre do Carmo, esmagou as duas mulheres e dias depois foi visto passeando nas ruas do Recife: de todas as histórias ligadas ao nome de Papai-outro a que mais me maravilhou na meninice. Traz a história, ainda mais extraordinária, da barcaça que ia naufragando no mar furioso da costa das Alagoas com a irmã e os sobrinhos pequenos de Papai-outro, quando de repente o mar serenou como por milagre e a barcaça, vencido o temporal medonho, entrou docemente no porto de Maceió. Traz a história do mata-mata-marinheiro: Papai-outro, nesse tempo regente no Arsenal de Guerra, abrindo a casa aos pobres portugueses da Rua da Praia e conseguindo salvar 30 da fúria do povo do Recife. Fala das grandes cheias: a de 32, a de 56, a de 97. Do primeiro cólera. Do segundo. Da Revolta Praieira. Da hecatombe de Vitória. Do assassinato de Bodé. Da chegada de Dom Vital. Das façanhas de José Marianno e da capangada marianista de São José. Dos efeitos da proclamação da República em Pernambuco.

Ao lado disso, notas de nascimentos, casamentos, mortes, formaturas, nomeações, demissões, embarques e

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