Memórias de um Cavalcanti: 1821 - 1901

desembarques de gente da família; a idade com que se iam casando filhos e netos; o número de filhos que cada um ia tendo; as crianças que morriam — um deles Ioiozinho, primeiro neto de Felix Cavalcanti; os nomes dos meninos; as doenças; os remédios; tia Sinhá doente de cólera e o remédio que a salvou da morte certa; as numerosas casas e sobrados que a família — sempre em mudança — ocupou no Recife, na Vitória, em Escada, em Olinda. Mas principalmente no Recife.

Porque o velho Felix passou a vida mudando de casa. Era como se tivesse carreteis nos pés e fosse sozinho no mundo; e não um patriarca com enorme família, escravos velhos, crias dentro de casa; com imensa mobília de jacarandá maciço, guarda-louça e aparadores de amarelo, camas de condurú, santuário, armário, baús, mesa de jantar para vinte pessoas, a coleção inteira dos romances de Alexandre Dumas, a História Universal de Cesar Cantú, os romances de Eugenio Sue, o retrato do Visconde de Rio Branco. Mais de vinte vezes muda de casa. Mudança de casa-grande do engenho Jundiá onde nascera na opulência, o pai ainda vivo senhor de muitas terras de massapé e de muitos negros da Angola, para a casa-grande de Jussarinho; desta para a de Quitinduba; daí para uma casa de sítio no Arraial e depois para outra em Beberibe entre pés de tamarindo, mangueiras, goiabeiras e dendezeiros. Da casa de quatro águas de Beberibe para um sobrado do Recife. De um sobrado para outro, às vezes de um sobrado para outro na mesma rua:

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