Memórias de um Cavalcanti: 1821 - 1901

para a Santa Casa, tacos de queijo do Reino para um ratinho que sempre aparecia na sala da secretaria. Até se pensou que ele estivesse ficando caduco; mas era para observar a gula do catita que despertara a sua curiosidade e também a sua ternura um tanto franciscana pelos bichos, capaz de se comover até pela "gratidão" de um urubu: "o urubu de Chã de Carpina", de que fala numa das páginas mais ingênuas do livro. Gostava de bichos. Criava galinhas em casa, quando a casa tinha quintal ou era de sítio. Teve cachorros: mas tendo sido preciso matar um, que ficou doente de raiva, nunca mais quis saber de ter outro. Nunca teve foi a mania por cavalo de corrida e por passarinho de alguns de seus filhos e netos, cujas casas pareciam mercados de aves: nem tão pouco a paixão por galos de briga. Não jogava no "bicho"; mas bilhete comprava um décimo ou um vigésimo uma vez por outra, na Loteria de S. Pedro Martir ou de N. S. do Rosário. O vício sob disfarces piedosos.

Quando morria alguém de casa, ele e a família inteira vestiam luto fechado: até os meninos pequenos. O luto se estendia aos escravos domésticos ou crias de estimação já elevados a pessoas da família e houve tempo em que incluiu a própria casa ou sobrado que passava dias e até semanas com as portas e janelas da frente todas fechadas, um grande laço de crepe sobre a porta principal.

Havia aliás no Recife na primeira metade do século passado — ainda conhecido por Papai-outro — mulheres quase tão familiares das casas como as "comadres"

Memórias de um Cavalcanti: 1821 - 1901 - Página 55 - Thumb Visualização
Formato
Texto