Farias Brito; o homem e a obra

afigura-se-me que exerceu grande influência entre os intelectuais. Rocha Pombo foi um daqueles que mais se aperceberam do mérito real de Farias Brito e a sua obra, a Finalidade do Mundo, 1º volume, fui eu quem primeiro lhe deu a ler e mereceu do grande historiador vários artigos de justa apologia. Em virtude desses artigos, estabeleceu-se entre ambos viva e afetuosa correspondência, a qual muito concorreu para que Farias Brito deslocasse a sua atividade para esta capital. Aqui, como é de prever, os dois amigos mantiveram a mais edificante reciprocidade de estímulo, conquistando Farias Brito, logo depois, a cátedra de Filosofia do Externato Pedro II, depois de famoso e ruidoso concurso.

Uma das reminiscências que tenho desse convívio, ilustra eloquentemente a psicologia dos dois mestres. Tendo recebido algumas dezenas de contos, Farias Brito procurou imediatamente o amigo para combinarem a aquisição de um grande colégio em Botafogo. Era a realização dos seus ideais de educadores. Foi com entusiasmo que um e outro anteviram a grande felicidade e se entenderam quanto aos programas de ensino e propósitos do novo instituto. Ficou assente que aqueles nada teriam a ver com exigências oficiais para exames e que a finalidade exclusiva, única e absoluta do colégio seria manter cursos de filosofia, ciência pura e belas e boas letras clássicas. Nele, pois, só seriam admitidas verdadeiras vocações, intelectuais. Tudo assim projetado, levou Farias Brito a resolução à pessoa íntima, cujo espírito positivo e prático viu logo todo o risco que correria o instituto platônico e a sorte do seu diretor. Discordou, em boa hora, desse plano didático e só assim o filósofo não passou pela desilusão de ver sem alunos o mais excelso dos institutos culturais...

1939, Rio.

A. J. PEREIRA DA SILVA

da Academia Brasileira.

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