...Não obstante os três decênios em que o vi pela primeira vez, ainda lhe conservo a memória do semblante grave e a um tempo irresistível de benignidade humana. Despertava, para logo, a simpatia de quem dele se aproximasse. Era dessas criaturas que inspiram confiança, à primeira vista, não só pelos seus dons naturais como pela humanidade comunicativa de seu modo de pensar e sentir. Bastou- me o entretenimento pessoal de algumas horas para que avultasse a minha admiração pelo autor da Finalidade do Mundo, cuja leitura me empolgara muito antes de conhecê-lo. O homem e o filósofo se confundiam na mesma compreensão finalística das coisas e das ideias. Era o bastante para se julgar o verdadeiro estado de espírito desse pensador num ambiente moral, como o do nosso tempo, no qual as ideias já não têm domínio absoluto sobre a conduta.
Tenho a impressão de que ele reconheceu a necessidade imediata de estimular as forças vivas da juventude para um movimento definitivo de reação espiritualista. A inteligência é que cabia orientar o Mundo, porque só ela é capaz de interpretar o ritmo e a natureza das coisas. O primado da Ideia é que dignificava o homem e nem outro, a seu ver, era o sentido da vida, cujos ditames nos cumpria entender e realizar com aquele critério, acompanhando-a em todas as fases vicissitudinárias da Civilização. O pragmatismo não seria assim uma conformação servil da Ideia nos fatos, mas a interpretação destes, inspirada nos princípios fundamentais e irredutíveis da ética. Só assim deveria ele ser apreciado, como um novo método de especulação filosófica. O Mundo Interior, em suma, é que era tudo para o idealismo transcendente dessa alma de escol, em cujos dons criadores a sensibilidade e as forças especulativas sabiam, como em nenhuma outra, manter o equilíbrio difícil das duas metafísicas do espírito e do coração. A sua ação de presença que era, como já disse, um reflexo fisionômico dos seus sentimentos,