Não é facil fixar-lhes sempre a data exata em que foram compostos. Devia ter sido esta a ordem cronológica de sua composição, embora muitas vezes retomados mais tarde para o trabalho incontentado de aperfeiçoamento.
É provável que tenha sido pelas "Ondas" que Euclides começou a versejar. Daí começar-se pelo precioso volume, a evocação destas páginas mais de sentimento que de inteligência, a serem contempladas com a reverência piedosa de relíquias.
A primeira página tem o título — Ondas — primeiras poesias de Euclides da Cunha — Rio de Janeiro — 1883. De 1906 esta nota: "14 anos de idade. Observação fundamental para explicar a série de absurdos que há nestas páginas". Eis a poesia inicial:
Correi, rolai, correi — ondas sonoras
Que à luz primeira, dum futuro incerto,
Erguestes-vos assim — trêmulas canoras
Sobre o meu peito um pelago deserto!...
Correi... rolai — que audaz por entre a treva,
Do desânimo atroz, — enorme e densa,
Minh'alma um raio arroja e altiva eleva
Uma senda de luz que diz-se — Crença!...
Ide pois — não importa que ilusória
Seja a esp'rança que em vós vejo fulgir...
— Escalai o penhasco as'pro da Glória...
Rolai, rolai, - às plagas do Porvir!...