Se sondares da selva a entranha fria
Aonde dos cipós na relva extensa
Noss'alma embala a crença.
Se nos sertões vagares algum dia...
Companheiro! Hás de vê-la.
Hás de sentir a dor que ela derrama
Tendo um mistério, aos pés, de um negro drama
Tendo na fronte o raio da uma estrela!...
Que vezes a encontrei!... Medrando calma
A Deus, entre os espaços
Do desgraçado, ali tombado, a alma
Que tirita, quem sabe? entre os seus braços.
Se a onça vê, lhe oculta, a asp'ra, ferrenha
Garra, estremece, para, fita-a, roja-se,
Recua trêmula e fascinada arroja-se
Entre as sombras da brenha!...
E a noite, a treva quando aos céus ascende
E acorda lá a luz,
Sobre os seus braços frios, frios, nus
— Tecido de astros em brial estende...
Nos fletidos lugares
Em que ela se ergue, nunca o raio estala.
Nesse pragueja o tufão... Hás do encontrá-la
Se acaso um dia nos sertões vagares...
O soneto, que depois ele chamaria Amor algébrico, teve primitivamente a denominação de "Álgebra lírica", com ligeiras modificações, de 1884: