Mais me dói essa dor, mais esse mal é acerbo!
Assim — eu resolvi, indiferente e frio
Cheio de orgulho o "spleen" — como um banqueiro inglês,
Sepultar na ironia o pranto meu sombrio...
Por isso quando atroz na triste palidez
De minha fronte paira amarga ideia — eu rio!...
E quando pouco a pouco
Essa ideia me abate e vence-me alterosa,
De amargores repleta — eu rio como um louco...
E se ela ainda dói mais, e forte e tenebrosa
Sói ao último ideal da minh'alma aniilar,
E vencer-me de todo
Então — eu me ergo mais — e — desvairado o olhar
— Divinamente doido —
Eu rio, rio muito — até chorar!...
A FLOR DO CÁRCERE
"Nascera ali — no limo sorridente
Dos muros da prisão — como uma esmola
Da natureza a um coração que estiola —
Aquela flor imaculada e olente —
E ele que fora um bruto e vil descrente,
Quanta vez, numa prece, ungido cola
O lábio seco, na temida corola
Daquela flor alvíssima e silente!
E ele — que sofre e para a dor existe
Quantas vezes no peito o pranto estanca!
Quantas vezes na veia a febre acalma,
Fitando aquela flor tão pura e triste!...
— Aquela estrela perfumada e branca
Que cintila na noite de sua alma..."