A glória de Euclides da Cunha

OS LÊMURES

O' minha musa — imaculada e santa!

Deixa um momento os sonhos teus benditos

Despe os teus véus de noiva do Ideal

Deixa-os, despe-os e canta

Sobre as ruínas trágicas do mal

As almas arruinadas dos malditos!...


VERSO E REVERSO

Bem como o lótus que abre o seio perfumado

Ao doce olhar da estrela esquiva da amplidão,

Assim também, um dia, a um doce olhar, domado,

Abri meu coração.

Ah, foi um astro puro e vívido, e fulgente,

Que à noite de minh'alma em luz veio romper

Aquele olhar divino, aquele olhar ardente

De uns olhos de mulher...

Escopro divinal — tecido por auroras —

Bem dentro do meu peito, esplêndido, tombou,

E nele, altas canções e inspirações ardentes

Sublime burilou!

Foi ele que a minh'alma, em noite atroz, cingida,

Ergueu do ideal, um dia ao rutilo clarão.

Foi ele aquele olhar que à lágrima dorida

Deu-me um berço — a Canção!

Foi ele que ensinou-me as minhas dores frias

Em estrofes ardentes, altivo transformar!

Foi ele que ensinou-me a ouvir as melodias

Que brilham num olhar...

A glória de Euclides da Cunha - Página 136 - Thumb Visualização
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