OS LÊMURES
O' minha musa — imaculada e santa!
Deixa um momento os sonhos teus benditos
Despe os teus véus de noiva do Ideal
Deixa-os, despe-os e canta
Sobre as ruínas trágicas do mal
As almas arruinadas dos malditos!...
VERSO E REVERSO
Bem como o lótus que abre o seio perfumado
Ao doce olhar da estrela esquiva da amplidão,
Assim também, um dia, a um doce olhar, domado,
Abri meu coração.
Ah, foi um astro puro e vívido, e fulgente,
Que à noite de minh'alma em luz veio romper
Aquele olhar divino, aquele olhar ardente
De uns olhos de mulher...
Escopro divinal — tecido por auroras —
Bem dentro do meu peito, esplêndido, tombou,
E nele, altas canções e inspirações ardentes
Sublime burilou!
Foi ele que a minh'alma, em noite atroz, cingida,
Ergueu do ideal, um dia ao rutilo clarão.
Foi ele aquele olhar que à lágrima dorida
Deu-me um berço — a Canção!
Foi ele que ensinou-me as minhas dores frias
Em estrofes ardentes, altivo transformar!
Foi ele que ensinou-me a ouvir as melodias
Que brilham num olhar...