A glória de Euclides da Cunha

E são seus puros raios, seus raios róseos, santos

Envoltos sempre e sempre em tão divina cor,

As cordas divinais da lira de meus prantos

D'harpa da minha dor!

Sim — ele é quem me dá o desespero e a calma,

O ceticismo e a crença, a raiva, o mal e o bem.

Lançou-me muita luz no coração e na alma,

Mas lágrimas também!

É ele que, febril, a espadanar fulgores,

Negreja na minh'alma, imenso, vil, fatal!

É quem me sangra o peito — e me mitiga as dores.

É bálsamo e é punhal.

Meu pobre coração, tolo cedo aniquilado

Na ardência das paixões, ó pálida criança,

Revive à doce luz do teu olhar magoado;

E cheio de ilusões, de crenças e esperança,

Faz o castelo ideal das loiras utopias

Com a luz do teu olhar e o ouro de tua trança.

Quando pelas sombrias

Ondas do oceano o luar vastíssimo se espalma,

De todo o seu negror desprende as ardentias.

De teu olhos, assim, à luz divina e calma,

Dimanam, fulgurando, as ilusões e os versos

Das sombras da minha alma.


Já, de 1888, dos tempos da Escola Militar, estas duas quadras delicadas:

Há nos teus olhos escuros

Tantas centelhas, que ao vê-las

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