A glória de Euclides da Cunha

A acusação tem sido vagamente formulada e, recentemente, em termos mais precisos e com evidente má-fé, se repetiu.

Não foi suficiente a clareza meridiana com que Afrânio Peixoto, na conferência "Dom e arte do estilo", mostrou, sob as semelhanças, as diferenças flagrantes que afastam aquela insinuação:

"Já Sarmiento havia dado na Argentina, nesse outro livro de gênio, Facundo, o exemplo de uma monografia biográfica do homem, símbolo grandioso de uma raça e de um momento histórico, nas terras livres e licenciosas da América. Um século de caudilhismo sanguinolento, rapace, irrequieto, entrecortado de gestos cavalheirescos e de inauditas violências entre a miséria dos campos, a indiferença das cidades, a tristeza do deserto e a ânsia pela civilização, aí estão nesse livro, o primeiro dos maiores que o continente começou a produzir. Data com efeito de 1845 e foi escrito para desafrontar a Civilização prometida à América, contra a tirania, agora de Rosas, que ainda nesse tempo aterrorizava o Rio da Prata. Também Os Sertões são um revide à barbaria, que, mantida pela incapacidade do homem, é afogada por ele, num momento de desespero, em chacina de caudilhagem.

Sarmiento retrata no Facundo, antes que desapareça, mais meio século transcorrido talvez, a história torva e deplorável do primeiro instante de emancipação desse espírito americano, filho de Terra

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