A conquista do deserto ocidental: subsídios para a história do território do Acre

De maneira que os rios do Acre continuavam desconhecidos e intransponíveis. Suas cabeceiras eram inapeláveis enigmas, como a do Javari que inutilizou várias cartas geográficas antes da sua revelação.

Os bolivianos, pois, não tinham pressa de arremeter além das "terras já descobertas", mesmo porque, até 1866, o Amazonas continuava fechado à navegação estrangeira e, sendo o Amazonas o escoadouro natural do Acre, não adiantava o Acre sem o caminho do Atlântico.

Foi no tempo em que a Bolívia esperava melhorar suas condições internas, a fim de enfrentar o problema do Acre, que o californiano do nordeste surgiu nas divisas e atravessou-as. Surgiu nas pegadas de alguns intrépidos exploradores que se haviam aventurado no Purus, no Iáco, no Tarauacá e no Juruá. Veio de improviso, como uma nuvem de gafanhotos. E andou para adiante, mal-entrouxado, barbado, cabeludo, apressado e praguejante.

Vinha do deserto clássico. Daquele que mata o bicho e o homem, a planta e a água. Os pés ainda sangravam das pedras. Cheiro de mar nas carnes ensolaradas. Marchava do estorricamento para o dilúvio. Do gneis para o aluvião. Da sede para o afogamento.

Dois desertos tremendamente antagônicos esses donde vinha e para onde ia tão esquisito viajante!

O cearense e o Acre eram dois destinos ainda sem comunicação com a vida: o primeiro a procura duma terra que o recebesse, o segundo a procura dum povo que o tomasse. Ambos pareciam, providencialmente, preparados para encontrar-se um dia. Ambos indesejáveis, soturnos, ásperos,

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