A conquista do deserto ocidental: subsídios para a história do território do Acre

trágicos. Ambos espancando das costas um deserto agressivo. Um carregado de filhos. Outro carregado de rios.

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Domando a nova natureza o nordestino não buscava a Canaan. Buscava mesmo a Califórnia. No tempo da seringa o látex tinha celebridade de

ouro.

Chegou, penetrou, espalhou-se.

Tangido pela seca buscava o Acre como um refúgio: mas esperava voltar, logo que a inclemência cósmica o anistiasse. Sonhava, contudo, regressar ao sertão, ébrio de distâncias e farto de pecúnia. No entanto demorava. Que é que estava acontecendo?

Por sua vida miserável o sertanejo pobre era, depois do índio, o último homem da escala social do Brasil. Da \"escala social\" porque o era da \"escala econômica\". Vivia das sobras das fazendas e do rebotalho das bagaceiras. Para avaliá-lo era só ver a sua \"bagagem\". Para senti-lo era só ver as suas necessidades. Pertencia às castas infelizes do camponês e do trabalhador rural. É verdade que sobrevivia: mas como o cacto no areial. Sobrevivia como fenômeno humano.

Era esse homem que, no Acre, esperava uma compensação. Porque as notícias diziam tratar-se duma terra sem dono. Portanto desocupada e livre. Era só chegar e estabelecer-se. Cair no \"corte\" como o garimpeiro na bateia. Depois recolher o latexouro. Depois enriquecer e voltar.

Todo o Acre passou a ser um acampamento.

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