faltarem a este ajuste, serão castigados com aquellas penas condignas á sua culpa pois elles mesmos escolheram este meyo, entendendo ser-lhes mais conveniente, que o darem-lhe mais um dia na Semana". Escrita em Lisboa, a 24 de julho do 1704 — Rainha. (105)Nota do Autor
São documentos esses que provam o carinho, o minucioso interesse que a Coroa dedicava à sorte dos trabalhadores, carinho e interesse que chegavam a se estender até ao problema do agasalho noturno dos escravos. Mas uma coisa não deve ser esquecida: é, em primeiro lugar, que essas medidas não tinham nenhum laivo demagógico, correspondendo apenas às indeclináveis exigências do sentimento católico e da ordem tradicional; em segundo lugar, que a ação do Estado se fazia sentir diretamente sobre os patrões, os trabalhadores delas não tendo nem conhecimento; em terceiro lugar, que não eram tomadas com desprezo ou esquecimento da necessária ascendência do capital sobre o trabalho: a Carta Régia diz que foram os próprios senhores de Engenhos "que escolheram este meyo (o de sustentarem os escravos), entendendo ser-lhe mais conveniente". A legislação tinha, assim, um sentido indisfarçavelmente patrimonial e os produtores eram cumulados de favores, de regalias e de privilégios que escandalizariam os marxistas e sans-culotte dos nossos dias. Era universal a crença na legitimidade desses privilégios, desta ascendência necessária para o bem comum, e quando ocorria a necessidade de se fazer justiça contra os patrões, não se partia de nenhuma falácia igualitária pois a hierarquia, a desigualdade funcional dos valores, não padecia discussão, estava nos espíritos, era um elemento pacífico da ordem social de então.