Uma palavra de Duarte Coelho, abarbado com proprietários que "esfolavam o povo", numa carta a Dom João III, trai este espírito fundamental de ordem hierárquica em que repousava a sociedade da época: "... porque affirmo a V. A. — observava ele — que he justiça e que antes vou contra o Povo que contra os donos de Engenhos, mas a negra cubiça do mundo é tanta que turba o juizo dos homens, para não concederem no que he de justiça". (106) Nota do Autor Isto é: não se partia de meras questões de fato, de injustiças ocasionais a reparar, de abusos que corrigir, para negar os fundamentos institucionais, estruturais, da ordem estabelecida. Não se fazia política impressionista ou fenomenista; fazia-se a política dos princípios eternos, segundo a qual um vício não infirma uma instituição, e um erro não justifica a subversão duma ordem.
Já uma vez, estudando as causas do surto formidável da civilização olindense, patente em tantas manifestações da vida da urbs duartina, já em fins do século XVI e princípios do XVII, fomos levados a atribuí-lo mais do que a Duarte Coelho, às ideias dominantes na época; às largas atribuições de direito público de que se achava o velho capitão investido; ao regime econômico e financeiro; à divisão territorial; à produção açucareira; e até ao tão infamado sistema de impostos. "Porque — dizíamos então — não se pense que Duarte Coelho trouxe de Portugal apenas ferramentas, judeus, sementes e gado. Trouxe também um quadro de instituições admiravelmente adaptadas ao mister da Colonização. Um quadro geral de civilização. Grande