Capitais e grandeza nacional

a inverter aqui seus grossos cabedais, a vir aqui viver, batalhar, vencer ou morrer, sem a segurança de certas condições, de certas liberdades e mesmo de certos privilégios, que compensassem os riscos que se corriam? Se hoje para continuarmos o esforço desbravador e marcharmos para o oeste advogamos a reabilitação do "coronel", que não dizer dos tempos coloniais? Aventura não é loucura: tem sua ganância, sua ambição; tem portanto um pragmatismo e uma contabilidade. Falhasse esse lastro de condições favoráveis, e teria sido monumental malogro o esforço colonizador de D. João III. Dessa primazia dos fatores políticos sobre os econômicos, temos aliás um documento de raro valor: as cartas de Duarte Coelho a D. João III. Essas cartas constituem o melhor retrato da colônia na fase duartina e por elas se vê que não haveria pau-de-tinta, nem açúcar, nem tabaco, nem minas, que prendessem aqui os moradores, não fosse a existência duma ordem política, capaz de assegurar ao trabalho um ambiente de sossego e de segurança. Numa dessas cartas — a de 24 de novembro de 1550 — aludindo a certas modificações introduzidas no regime de liberdades e franquias, até então vigorante na colônia, e que inquietavam vivamente os moradores, já dispostos a abandonar a capitania, diz no seu saboroso português quinhentista, que a abolição daquele regime é coisa mais para "despovoar o povoado do que para povoar o despovoado":

"Ha rezam, Senhor, me hobriga por descarego de comsyemssea a dar dysto esta breve conta a V. A, e dygo que todo este povo e rrepubrica desta Nova Lusytanea foy e está muy alterado e confuso com estas mudanças e afyrmo a V. A. que se por mim não fora se queryam muytos yr da terra e ysto ssobretudo em lhes nam quererem sseus ofycyos qua nem do Reyno guardar

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