Capitais e grandeza nacional

a gleba. Nem podia deixar de ser assim. A situação do servo estava longe de assumir os aspectos trágicos desenhados pela ciência racionalista do século passado: ao favor da gleba beneficiou-se antes dum regime de segurança, preciosíssimo numa época turbulenta como a medieval. "O servo preso à terra é a própria terra ligada ao servo — diz belamente um escritor — e ligada em condições de duração e de segurança de que nós hoje com dificuldade conhecemos as vantagens". E comenta Sardinha que faz a citação: "Ora estando a terra ligada ao servo, o seu proprietário estava consequentemente obrigado para com o servo na mesma proporção. O senhor não podia assim deslocar o servo, despedi-lo da terra, ou impedir que os filhos do servo sucedessem ao pai no desfruto do domínio. Se a terra é vendida, o servo continua. Chamam a isso os nossos denunciadores ser vendido com a terra. (Louis Dimier, La Diffamation du servage, p. 195 do volume I de Les prejugés ennemis de l'histoire de France. Paris). Era-se tão vendido, efetivamente, como os arrendatários a longo prazo duma casa são vendidos com ela, se por ventura o prédio muda de dono durante a vigência do arrendamento". (185)Nota do Autor E sublinha o sociólogo contrarrevolucionário português: "O que prova que o servo da gleba era mais feliz do que o operário de hoje pois dispunha dum teto para se recolher e duma jeira de terra com que se sustentar".

Tão útil sob outros aspectos, o livro do Sr. Lemos Brito sucumbe a certos poncifs duma escola histórica de que já se fez o processo e com cujo expurgo muito teria a sua obra que ganhar.

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