orador doutrinário e a do orador combatente. Quando se erguia para expor e discutir uma tese constitucional ou um problema jurídico, a trama do seu discurso estava ordenada, a unidade do raciocínio estava traçada e o rigor das fórmulas delineado, por modo que a ideia sugeria repentinamente o termo exato e o rasgo flexível da locução. Repugnava a declaração e a ênfase; abominava os artifícios da retórica impetuosa e vazia. Imperavam nas suas orações o vigor persuasivo e a profundeza dos conceitos e das sentenças. Era então o mestre exímio do Direito quem falava, e todos o ouviam num silêncio enamorado e embevecido. Rompesse, porém, na tribuna o orador combatente, rebentava nos ares, instantaneamente, com estrondo, uma tempestade. Estalejavam os apartes e rugia um furacão de insultos. Lafayette cruzava os braços, imperturbável e sereno, e esperava que o temporal amainasse. Transmudava-se em tais momentos o orador. Tomando o látego impiedoso de Juvenal, agora a flecha resplendente de Horário, destroçava os seus competidores com os sarcasmos mais amargos e os epigramas mais agudos. Mas quase sempre ria, como Fígaro ou Gavroche, e os motejos esvoaçavam como asas de abelhas douradas. "O riso é uma filosofia", escreveu Eça de Queirós. "Muitas vezes o riso é uma salvação; e em política constitucional, pelo menos, o riso é uma opinião."
Este orador ateniense nobilitou assim a tribuna parlamentar na quadra do seu maior esplendor. De feito, nunca subira tão alto, no Brasil, a eloquência política. José Bonifácio, uma torrente de estreias, era majestoso e olímpico. Sua palavra cristalizava todas as maravilhas e todas as vibrações da natureza. Silveira Martins, forjando raios na tribuna, era audaz, intrépido, tumultuoso e dominador. Fernandes da Cunha, desordenado e desigual, prendia o auditório na magnificência de sua imaginação portentosa. Cotegipe, polemista sagaz e ardiloso, negligente na expressão, era calmo e sóbrio, mas as suas réplicas tinham movimento, vivacidade, fluidez e realce, enfloradas pelos brincos facetos da sua graça encantadora. Ferreira Viana era estupendo de fantasia e humorismo. A sua ironia, ridente, caprichosa, de uma transparência cintilante, borbotava as joias mais imprevistas da zombaria e do paradoxo. Martinho Campos, oposicionista por