Cartas ao irmão

Por quê? Porque nos governos parlamentares o cargo de conselheiro da Coroa não é senão o de comissário do Parlamento e porta-voz, perante o trono, da vontade do país na administração de si mesmo". E depois: "Somos nós mais monarquistas do que a Inglaterra? Mas as mais francas manifestações republicanas se têm pronunciado aqui, nas duas Câmaras, sem turvar um instante a serenidade dos debates parlamentares, e, no Senado, até com satisfação de conservadores. Pertence entre nós aos monarquistas o monopólio da inteligência, na apreciação dos interesses ordinários do país? Serão os republicanos cidadãos menos bons do que eles? Quem tiver a coragem de responder pela afirmativa a essas interrogações, arremesse o calhau ao Sr. Lafayette!"

A demissão do ministro da Guerra provocou violentas cenas na Câmara dos Deputados. Lafayette tinha escrito uma carta àquele ministro, dizendo-lhe que seria um ato acertado a sua retirada do Conselho: "Coube a V. Ex. uma pasta alheia aos seus estudos e hábitos; daí, força é confessar, tem resultado notável tibieza e falta de conveniente direção nos negócios da guerra." Era uma novidade na alta administração do país. Era uma descarga explosiva, um acesso de temeridade, que a todos encheu de pasmo. Lourenço de Albuquerque exclamava: "Duvidei de meus próprios olhos!" Ratisbona protestava que era aquilo "uma prática estranha a todos os parlamentares". Duque-Estrada Teixeira repetia uma frase de Lafayette: "A política não tem entranhas!" Avaliando a má impressão causada por essa palavra fria, Moreira de Barros explicava a expressão de Lafayette, que devia ser tomada justamente no sentido oposto: "queria dizer que a política não se deve inspirar nem no ódio nem nas afeições, mas no interesse público, que nem sempre se pode harmonizar com os sentimentos individuais". O ex-ministro da Guerra, invectivando furiosamente contra Lafayette, provocava-o nestes termos: "Decline V. Ex. um fato! Diga qual foi o erro que cometi!" E Lafayette atalhava: "A incapacidade não se prova com fatos." Exacerbado, o ex-ministro tornou à tribuna, injuriando atrozmente o presidente do conselho. No dia seguinte desferia-lhe Lafayette, com uma serenidade inalterável, esta resposta cruel:

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