governo realizar as suas reformas sobre a questão do elemento servil, respondeu: "Nesta sessão, e dentro de poucos dias, por meio de um projeto que será submetido à Câmara." E acrescentou: "Não há outro meio de realizar reformas, que dependam de lei, senão por um projeto submetido ao Poder Legislativo." Não houve quem não rompesse em riso, observando a fingida seriedade com que foram ditas estas palavras.
Noutra ocasião, Andrade Figueira interperlou o presidente do conselho, indagando se o governo perfilharia o projeto da comissão, incumbida de estudar a divisão das rendas gerais e provinciais. Acudiu Lafayette: "Darei uma resposta que ao nobre deputado talvez pareça resposta de Sganarello: pode ser que sim, pode ser que não. Pode ser que sim se o governo, depois de estudo refletido, se convencer de que o projeto satisfaz os interesses que se tem em vista; pode ser que não se o governo se convencer de que o projeto é imperfeito; em tal caso, organizará outro em harmonia com as suas vistas, e este será presente ao Parlamento." A frase de Lafayette — pode ser que sim, pode ser que não — foi depois repetida e até hoje se repete como solução evasiva de escápula e arteirice, para conjurar situações embaraçadas, suspeitas ou equívocas. Foi, aliás, neste sentido que astuciosamente a proferiu o personagem de Molière, quando lhe perguntam se é ele que se chama Sganarello: "Oui et non, selon ce que vous lui voulez." Mas a resposta de Lafayette não tem o ardil nem a malícia de Sganarello. Valeu-lhe, não obstante, por todo o resto da sua vida, e ainda depois da sua morte, a reputação de um espírito dissimulado, tortuoso e maligno. — É o homem das "soluções oblíquas", do "pode ser que sim, pode ser que não", de "uma vela a Deus e outra ao diabo", dizia-se dele, a cada passo, nos jornais. Consolava-o a lição da história, apontando-lhe o exemplo de Émile Ollivier, perdido para sempre por uma palavra inocente, maldosamente interpretada, e o de Guizot, a quem adversários atribuíram um conselho imoral aos seus eleitores, mutilando-lhe perversamente um discurso.
Na sessão de 3 de junho de 1884, procedendo-se à eleição do presidente da Câmara, o candidato do governo venceu