Cartas ao irmão

apenas por dous votos o ex-ministro da Guerra, indicado pelos diversos grupos da oposição. Poucos dias depois, uma moção contrária ao governo era rejeitada por escassa maioria. Lafayette, convencido da inutilidade da resistência, abandonou o poder. Costumava então repetir aquele conceito do magistrado Eugène Poitou: — \"La politique n\'est pas une science mathématique; en politique, il n\'est pas toujours vrai que deux et deux fassent quatre, ni que la ligne droite soit la plus courte.\" O seu governo, atormentado por frequentes temporais do Parlamento, mereceu a Afonso Celso este comentário: \"Se o gabinete Lafayette não realizou reformas, nem legou benefícios eminentes ao país, prestou ao menos um serviço, graças à forte individualidade do seu chefe: inseriu na trivialidade dos nossos anais parlamentares alguns traços originais e artísticos.\"

Em 1885 partiu Lafayette para o Chile, como enviado extraordinário e ministro plenipotenciário, em missão especial do Imperador, a quem tocava a escolha do terceiro árbitro nos tribunais mistos internacionais, incumbidos de resolver as questões da guerra do Pacífico. Os pareceres que então formulou e as sentenças que proferiu elevaram a grande altura o nome do Brasil, pelo profundo sentimento de justiça que os realçava. Diplomata e magistrado, de uma rigidez e de uma incorruptibilidade incomparáveis, Lafayette cobriu-se de glória naqueles debates solenes, fazendo triunfar o direito, onde quer que ele repontasse, contra a coligação de interesses subalternos, não raro fortemente patrocinados.

Nova missão diplomática lhe foi cometida em 1889, na Conferência Internacional Americana de Washington. Achava-se nesse posto quando se proclamou a República. Imediatamente deixou o cargo, apesar de instado pelo novo governo para que nele permanecesse. Estava definitivamente encerrada a sua carreira política.

Fiel ao imperador exilado, de quem se fizera amigo e cujas nobres qualidades sempre engrandeceu, Lafayette absteve-se de qualquer solidariedade com o novo regime.

Tendo-lhe alguém perguntado por que não intervinha na organização das novas instituições, objetou: \"Regimes novos

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