povo era muito "repúblico", e mesmo bem republicano, onde justiça, polícia, impostos, eleições faziam parte da vida dos homens, em bases raramente vistas no Brasil até muito pouco tempo — seria, naturalmente, uma população vivamente politizada e naturalmente interessada em posições radicais. E a velha Queluz de Minas, nas proximidades de Ouro Preto, na linha de Caminho Novo, não ficaria atrás...

O Partido Liberal

O Partido Liberal sempre foi muito forte em Minas. Aliás, ambos os partidos sempre foram muito fortes em Minas. Politicamente, a terra montanhesa apresentava um aspecto singular: os dois partidos igualmente fortes, equilibrados, embora ligeira a predominância liberal. A situação não se alterava apesar das modificações de comando no plano nacional. O sorites de Nabuco não tinha aplicação em Minas. D. Pedro I, tentando interferir no resultado do pleito, para fazer a vitória de candidatos seus, mas em vão; a frase altiva do Marquês de Paraná a D. Pedro II, quando ponderava que estaria interferindo na política para eleger um filho — "Honório Hermeto não precisa do auxílio do presidente do Conselho para eleger um deputado por Minas" —; e os resultados constantes dos pleitos confirmam o fato. Aliás, numa das cartas que constituem o presente volume, Lafayette, antes da Lei Saraiva, reconhece a pequena influência do governo em Minas.

Nada melhor ilustra o tema do que os resultados depois da Lei Saraiva, quando o sistema eleitoral do Império chegou ao ideal de perfeição desejado. Assim, na eleição de 31 de outubro de 1881, no governo liberal do conselheiro Saraiva, que, aliás, fez questão de agir modelarmente: os liberais fizeram 74 deputados, os conservadores 48. Minas mandou para a "Cadeia Velha" 14 liberais e seis conservadores; o Rio, reduto saquarema de fazendeiros do vale do Paraíba, dez conservadores e dois liberais; o Rio Grande do Sul, os bravos "maragatos" de Silveira Martins, seis deputados, todos os seis "gaúchos de lenço vermelho" do velho Gaspar... Em Pernambuco os conservadores ganharam (eram os senhores de engenho dominando); na Bahia, os liberais por alta percentagem, o mesmo em São Paulo.