Viagem à comarca de Curitiba

As mulheres são geralmente muito bonitas, de tez rosada e traços delicados, características que ainda não havia observado em nenhuma brasileira. É verdade que não são dotadas dessa vivacidade que distinguem as francesas; caminham com lentidão e fazem poucos movimentos. Assim mesmo, porém, não se mostram acanhadas como as mulheres de Minas quando, por acaso, se encontram com pessoas estranhas (1816/22). Nos Campos Gerais, elas raramente se escondem à aproximação dos homens, acolhem os hóspedes com urbanidade simples e graciosa, são amáveis e, conquanto não sejam dotadas da mais rudimentar instrução, conversam encantadoramente.

Ao entrar nos Campos Gerais, não só me surpreendi com o aspecto da região, para mim inteiramente novo, como fiquei, de algum modo, desorientado com os hábitos dos colonos, completamente diferentes dos que observara entre os mineiros e até entre os habitantes do norte da Província de São Paulo. Os homens andam sempre a cavalo, e a galope, e usam um laço de couro atado à sela de feitio particular, denominada lombilho. As crianças, até as de mais tenra idade, aprendem a atirar o laço, a fazer o rodeio e a perseguir os cavalos e os bovinos. Vi uma delas, de três a quatro anos de idade, que já sabia manejar o laço em torno da cabeça e a atirá-lo destramente. Quase não possuem outras ideias além das que se relacionam com a criação do gado. A ignorância é extrema; quem sabe ler e escrever é tido na conta de homem instruído e entre os mais importantes proprietários existem muitos que não possuem esses conhecimentos (1820), como, por exemplo, um coronel da milícia que gozava de justa reputação pela sua liberalidade e pela sua riqueza. Por toda parte encontrei pessoas hospitaleiras, boníssimas, que não eram destituídas de inteligência, e, no entanto, de ideias tão pouco desenvolvidas que eu não podia com elas manter conversação por mais de um quarto de hora.

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