Viagem à comarca de Curitiba

Seria de esperar que o clima temperado dos Campos Gerais incitasse o homem ao trabalho; mas a espécie de ocupação que a própria natureza, por assim dizer, o obrigou a adotar, tornou-o preguiçoso. A criação do gado requer pouco cuidado; os que a ela se dedicam, trabalham intermitentemente, sendo essa ocupação mais um divertimento que outra coisa. Galopar nos campos imensos, arremessar o laço, dar batidas para conduzir o gado a lugar conveniente, isto é, fazer o rodeio, são para gente moça exercícios que lhe torna odioso o trabalho sedentário. E, desde que não montem a cavalo, não tanjam vacas e touros, entregam-se ordinariamente ao repouso.

Não se pense, porém, que os habitantes dos Campos Gerais nunca se afastam da terra. Homens de todas as condições sociais, operários e lavradores, uma vez adquirido algum dinheiro, vão ao Sul comprar muares chucros para revendê-los em sua própria região ou levá-los a Sorocaba.

Os proprietários abastados dos Campos Gerais não fazem como os dos termos de Itapeva e Itapetininga. Estes auferem as rendas longe de suas propriedades; os outros têm o bom senso de residir em suas terras. As casas, apesar de não terem a magnificência que se observa nas fazendas dos antigos mineiros, são limpas e, como já declarei, muito bem conservadas. O mobiliário é extremamente simples, consistindo o da sala de visitas em uma mesa e bancos de pau. Da mesma forma que em Minas, é na guarnição das camas que ostentam maior luxo; não usam cortinados, mas os lençóis são de fazenda finíssima e bordados em volta. O travesseiro é metido num saco de musselina que se abotoa por um dos lados, e sobre este colocam outro travesseiro menor, todo bordado. Nas residências dos proprietários ricos, servem chá com queijo, biscoitos e doces, em lindas bandejas envernizadas, luxo esse em contraste com a singular penúria da casa.

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