Desfrutam os Campos Gerais de vantagem que devo ressaltar. A criação do gado, a que todos geralmente se dedicam, requer poucos escravos, ao contrário do que acontece com o fabrico do açúcar e a mineração. O abastado coronel Luciano Carneiro, de quem falarei mais adiante, possuía apenas trinta, e em todo o termo da vila de Castro, no ano de 1820, existiam quinhentos, pertencentes a reduzido número de pessoas. Os lavradores pobres não os possuem, pois eles próprios fazem suas plantações, visto que o trabalho não é considerado uma ignomínia, como em muitos lugares da Província de Minas, à época de minha viagem.
Conquanto ninguém tenha vergonha de trabalhar, a verdade é que ali, como em qualquer outra parte do Brasil, se trabalha o menos possível. A vida dos que quase nada têm de seu, muito pouco difere da que levam os índios não domesticados. Plantam o estritamente necessário para a subsistência da família e passam meses inteiros no mato, entregues à caça de animais selvagens; aí constroem barracas e alimentam-se do que podem apanhar (1820).
Possuem os proprietários mais abastados enorme quantidade de bovinos. Só na fazenda de Jaguariaíba o coronel Luciano Carneiro tinha cerca de duas mil vacas, sem contar os touros e novilhos.
Não obstante ser de boa raça, o gado é inferior ao da comarca de São João del‑Rei, na Província de Minas. Pude compará-los na fazenda de um proprietário que fizera vir alguns touros daquela comarca.
Negociantes compram os novilhos nas fazendas e vendem-nos quase todos no Rio de Janeiro. Alguns anos antes de minha viagem, quando ainda enviavam tropas do Rio Grande do Sul para a capital, vendiam-se os bois, nos Campos Gerais, a quatro patacas ou 1$280 (8 francos); ao tempo em que ali estive, o preço em vigor era de