Tratados da terra e gente do Brasil

a cada passo nos parecia que já tínhamos lido cousa que se assemelhava ao que estávamos lendo.

O autor de quem nos lembrávamos lendo Purchas era Fernão Cardim. E então veio-nos ao espírito uma interrogação: quem sabe se em vez de Manuel Tristão não será Fernão Cardim o autor deste opúsculo?

Para chegar a uma solução as provas intrínsecas eram sem dúvida valiosas, porém não bastavam: era preciso recorrer antes às provas extrínsecas.

Felizmente estas não faltavam.

I. Diz Purchas que o manuscrito que reproduz foi tomado em 1601 por Francis Cook a um jesuíta que ia para o Brasil. Ora, exatamente neste ano, como se pode ver na Synopsis de Franco, o padre Fernão Cardim, que voltava para o Brasil da viagem a Roma, foi aprisionado por corsários ingleses e conduzido para Inglaterra.

II. Pela página 195 deste opúsculo se vê que ele foi escrito em 1584. Ora, neste tempo estava Fernão Cardim no Brasil, onde, como se vê na Narrativa epistolar (p. 252), ele chegou a 9 de maio de 1583, em companhia do padre Christovão de Gouvêa e de Manuel Telles Barreto, que vinha por governador geral.

Estas duas coincidências davam um fundamento sólido à hipótese; mas para torná-la certa devia se recorrer às provas intrínsecas, – à comparação dos estilos, ao cotejo das opiniões, etc. No caso presente estas provas têm valor – porque, se o opúsculo aqui publicado é de 1584, a primeira parte da Narrativa epistolar é de 16 de outubro de 1585. Escrevendo em dois períodos tão próximos um do outro, é natural que, se o

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