Tratados da terra e gente do Brasil

Nosso Senhor a todos sustenta nestes desertos com abundância.

Passados três meses de visita depois da nossa chegada, aos 18 de agosto partimos para Pernambuco: sc. o padre visitador, padre provincial, padre Rodrigo de Freitas, os irmãos Francisco Dias (XXI) e Barnabé Tello e outros padres e irmãos; e logo no dia seguinte com vento contrário, por mais não podermos, arribamos à Bahia. Tornando a partir o dia seguinte com o mesmo vento contrário, lançamos âncora na barra do Camamu, terras do colégio da Bahia (que dela dista 18 léguas): aqui estivemos oito dias, esperando tempo e vendo aquelas terras. O Camamu são 12 léguas de terra, por costa, e seis em quadra, para o sertão: tem uma barra de três léguas de boca, com uma baía e formosa enseada, que terá passante de 15 léguas, em roda e circuito; toda ela está cheia de ilhotes mui aprazíveis, cheios de muitos papagaios; dentro nela entram três rios caudais tamanhos ou maiores que o Mondego de Coimbra, afora muitas outras ribeiras, aonde há águas para oito engenhos copeiros, e podem-se fazer outros rasteiros, e trapiches (XXII). As terras são muito boas; estão por cultivar, por serem infestadas dos guaimorés (XXIII), gentio silvestre, tão bárbaros que vivem como brutos animais nos matos, sem povoação, nem casas: a enseada traz muitos pescados e peixes-boi: os lagostins, ostras e mariscos não têm conta: se estas terras foram povoadas bem puderam sustentar todos os colégios desta província e ainda fazer algumas caridades, máxime de açúcar a esta província; mas como agora está, rende pouco ou nada. O governador Mem de Sá fez doação destas terras ao colégio da Bahia (XXIV).

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